Cuidado! Tem uma quadrilha à solta por aí!
Calma, não precisa chamar a polícia. O que essa quadrilha está roubando não é nenhum bem material, mas é algo muito mais valioso: a sua memória.
Sua memória se divide em três: a memória de trabalho, a memória de curto prazo e a memória de longo prazo. A memória de trabalho é a responsável por lembrar as coisas no presente; é ela que você está usando pra ler esse texto e interpretar o significado de cada palavra. A memória de curto prazo é a responsável por “guardar” aquilo que você está aprendendo enquanto a memória de trabalho está ocupada; é um “ponto de passagem” pras informações . E a memória de longo prazo é onde as informações ficam guardadas em definitivo quando a memória de trabalho tem tempo pra guardar as novas informações no devido lugar.
A melhor biblioteca do mundo
Imagine que o seu cérebro é uma grande biblioteca. Os livros são as informações. As prateleiras onde estão os livros são a memória de longo prazo, onde os livros estão organizadinhos por categoria, autor, data… Já a memória de curto prazo é a prateleira de triagem, onde os livros (informações) ficam esperando a bibliotecária (memória de trabalho) ter tempo pra guardar os livros.
Essa bibliotecária (memória de trabalho) é muito esperta, e, pra facilitar o trabalho, sempre que chega um livro novo com o mesmo assunto de um livro antigo, ela “cola” um livro no outro. Ela forma, assim, blocos de informação (também chamados de chunks). Ela faz isso pra poder lidar com mais informações, porque o número de livros que ela consegue carregar por vez é bem pequeno. Se a sua bibliotecária não for muito boa, ela não vai conseguir lidar com mais de quatro livros (blocos de informação) ao mesmo tempo. Mas mesmo a melhor bibliotecária do mundo não consegue lidar com mais de nove. Isso também ajuda a construir contexto para a informação.
O problema é que existem ladrões de olho nessa biblioteca. Esses ladrões está sempre interessado em roubar os livros. Basta que a memória de trabalho se distraia, ou fique muito tempo sem checar se está tudo em ordem, pra eles aparecerem e levarem o máximo de livros possível. O nome desses ladrões? Distrações e procrastinação.
Você sabe do que eu estou falando. Quando estamos estudando, qualquer coisa parece mais interessante do que a matéria. Pior ainda se você estiver cansado(a), sem dormir direito, de ressaca, ou sob efeito de substâncias que afetem a sua capacidade de se concentrar.
Pra piorar, a nossa bibliotecária não é nenhuma santa. Ela só armazena os livros de que ela gosta mais: boas histórias, romances, comédias… Se for um livro sobre microeconomia avançada, ela mesmo deixa o livro na janela e finge que não está vendo o ladrão levar embora.
Então qual o segredo?
Primeiro de tudo, evitar distrações. Existem diversas técnicas para isso, e eu escrevi sobre aquela de que eu mais gosto recentemente: a Técnica Pomodoro.
Outro passo importante é prender a atenção da sua memória. E como fazer isso?Conquistando o coração da memória de trabalho! Fazer com que ela associe uma emoção muito forte com aquela informação, fazê-la rir, chorar, se sentir inspirada, etc. Aí sim ela vai deixar aquele livro sempre por perto e vai estar sempre de olho!
E como você conquista o coração da sua memória de trabalho? Contando boas histórias! Nossa memória trabalha e retém muito melhor os fatos quando estão todos “amarrados” em uma boa história. A história pode ser verdadeira ou inventada, tipo uma história sobre uma biblioteca sofrendo a ameaça de ladrões… Esse é um dos grandes segredos da Bíblia, por exemplo: em vez de sair ditando regras, ela conta essas regras por meio de histórias (as famosas parábolas).
Mas muitas vezes contar histórias não basta. Existe mais um segredinho sobre a nossa bibliotecária: ela prefere ver filmes a ler livros. Ela se interessa muito mais por imagens do que por simples texto. Por isso, quando você estiver com dificuldade pra memorizar algo, pratique a visualização: associe imagens, ainda que inventadas.
Recentemente, eu fiz um vídeo explicando uma técnica que reúne contar histórias e visualização de imagens: o Palácio da Memória.
Agora conta pra mim: qual técnica você usa pra sua memória não te deixar na mão?