Choque de Cultura: a oportunidadedo Futebol Feminino

Tirei esta foto logo que cheguei ao Morumbi no último domingo para o amistoso da seleção brasileira feminina contra a seleção japonesa. A imagem é poderosa: de um lado, uma longa fila de mulheres, e do outro a entrada masculina praticamente livre.

Desde a minha primeira visita a um estádio de futebol aos 5 anos, até os dias atuais, com 34 anos de idade, nunca havia presenciado algo assim. O estádio de futebol sempre foi um ambiente de maioria masculina, com aquele cheiro de suor, cerveja e (sim) urina; não era agradável. Como a própria torcida do São Paulo diz, o estádio era “raiz, hostil e ensurdecedor”.

Essa cena me levou a uma reflexão sobre o potencial do futebol feminino para criar uma nova cultura de consumo do futebol.

Junto com a cultura do futebol masculino, vêm a violência, o machismo, a hostilidade, a falta de respeito… Isso sempre tornou o estádio um ambiente inseguro para as mulheres. Além do assédio e das ofensas, o risco de “sobrar pra elas” em alguma briga com certeza afastou muitas mulheres dos estádios ao longo dos anos.

Além disso, a infraestrutura costuma deixar a desejar, com banheiros precários, opções de comida de baixa qualidade e visibilidade comprometida. As mulheres tendem a ser mais exigentes quando se trata da qualidade da experiência, e pra atendê-las é necessário fazer o (mínimo?) necessário pra oferecer uma experiência que lhes dê vontade de voltar.

Até agora eu falei daquilo que o futebol masculino faz bem e o futebol feminino pode fazer melhor, mas também tem o outro lado. Durante a partida, observei algumas mulheres que não pareciam compreender completamente o que estava acontecendo em campo, e também fez falta ouvir uma torcida “que canta e vibra”, como dizem os palmeirenses. Quem faz futebol feminino deve (sem ser condescendente, claro) aproveitar todas as oportunidades possíveis pra educar e envolver um público que ainda está se familiarizando com o consumo do esporte no estádio, sem comentaristas ou gerador de caracteres. No meu caso, quem fez isso foram meu pai e o rádio; pra esse novo público, quem vai ser?

Apesar dos desafios, enxergo uma imensa oportunidade para o futebol feminino. Ele pode aprender com o futebol masculino, aproveitando a paixão, o engajamento e a capacidade de criar uma comunidade de fãs dedicados.

Acredito que o futebol feminino tem o potencial de crescer, atrair mais público aos estádios e conquistar uma audiência fiel. Se souber incorporar o melhor do futebol masculino, ao mesmo tempo que promove uma cultura de respeito e inclusão, o futuro do futebol feminino é promissor.

Essa experiência me deixou esperançoso. O futebol feminino tem a chance de construir uma nova cultura de consumo, aproveitando o que há de melhor no esporte, mas evitando cometer os mesmos erros. Dessa forma, tenho certeza de que o futebol feminino tem tudo para crescer, levar cada vez mais público nos estádios, trazer cada vez mais audiência, trazer cada vez mais interesse e dominar cada vez mais o tempo e a atenção dos fãs de futebol e de esporte em geral.

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